Não devia ser possível - dizia eu - mas o que é facto é que estas tragédias acontecem. Infelizmente, com uma frequência indesejada.
Pergunto: "porquê meu Deus?"
Tal como aconteceu à Judite de Sousa e a muitas outras mães, também a minha perdeu o seu único filho, do sexo masculino, e... foi muito doloroso. É e sempre será muito doloroso! Não pode haver, não há maior dor para uma mãe do que ver partir o seu filho querido.
Bem sei que o tempo é um forte e bom aliado, contudo é uma dor muito viva, que dilacera o coração da mãe e lhe deixa um vazio profundo e uma saudade eterna!
Como mulher de fé, quero acreditar - embora sinta alguma dificuldade - que Deus terá uma explicação plausível para tudo o que acontece, à qual não temos acesso. Quero pensar que quem acredita que Deus sabe o que faz - e eu quero acreditar - pode ver minimizado o seu sofrimento, ainda que nunca esqueça e viva o resto do seu tempo carregando este pesado fardo.
Quero, ainda, aqui deixar à Judite de Sousa - que conheço apenas e só da televisão - e a todas as mães sem visibilidade que também passaram pelo mesmo drama, uma palavra de conforto. O momento é muito difícil e triste, mas Deus e o Tempo irão ajudar e melhores dias hão-de vir. Tenho a certeza.
Deixo o poema "Saudades" da nossa também sofredora e grande Florbela Espanca:
Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"