sábado, 8 de novembro de 2014

Li no Correio da Manhã e partilho...

porque subscrevo na integra este artigo de opinião do Professor Paulo Morais sobre o "Caso BES"


(B)EScândalo

Com tantos negócios obscuros, e por isso rentáveis, como chegou o BES à falência? Salgado tem de revelar o rasto do dinheiro.

A falência do BES, o mais poderoso banco do regime, apanhou todos de surpresa. Um banco sólido, com ligações políticas dominantes, a que todos atestavam idoneidade, desde o Banco de Portugal (BdP) ao Presidente da República. De súbito, a falência, sem qualquer causa percetível. O Parlamento vai agora promover um inquérito ao caso BES. Será que consegue esclarecer o enigma da inesperada falência? E será que quer?
Este é um caso em que nada faz sentido. Em primeiro lugar, não se entende como foi possível o banco falir. Pois se o BES esteve sempre envolvido nos maiores negócios, como ficou sem dinheiro? Foi o banco das parceiras público-privadas, que lhe garantiram rentabilidades milionárias. O grupo que lhe estava associado ganhou milhões nos casos "Monte Branco" e "Vargem Fresca", intermediou os subornos na venda de submarinos alemães a Portugal. No Brasil, foi a instituição liderante no escândalo de financiamento partidário "Mensalão". Foi ainda o BES-Angola, a par da sua associada Escon, que teve papel central nos negócios de petróleo de Angola e na lavagem de dinheiro das elites locais. Com tantos negócios obscuros, e por isso mesmo mais rentáveis, como chegou o BES à falência? Para onde foram os lucros destas atividades? Ricardo Salgado tem de revelar o rasto do dinheiro. E o Estado tem de o confiscar.
Uma outra questão que exige um esclarecimento cabal tem a ver com a solução encontrada pelo Banco de Portugal, que decidiu dividir o Banco em "bom" e "mau". No banco mau ficariam os problemas, os ativos tóxicos, o crédito malparado, participações duvidosas, investimentos sem retorno. Tudo para que o outro, o "bom", agora batizado de "Novo Banco", beneficiasse de saudáveis "ratios" financeiros e todos os depósitos ficassem garantidos. Mas se o "Novo Banco" fica financeiramente saudável, por que razão beneficiou ainda duma injeção de capital de cinco mil milhões? O governador Carlos Costa tem de explicar qual o destino dado a estas verbas.
Há uma questão final, a mais inquietante: num escândalo desta dimensão, que gerou um dano à sociedade de milhares de milhões, porque não há ainda contas congeladas nem património confiscado? E porque não há ainda ninguém preso?

                                                                   (Paulo Morais - Professor universitário)

Meu pobre País...