quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"Quem tem alma não tem calma"

(Imagem retirada da Net)
Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que eu sou e vejo.
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu"?
Deus sabe, porque o escreveu.

Este é um dos muitos e belos poemas de Pessoa de que gosto imenso  e que me toca profundamente. Especialmente em determinados dias... Hoje é um desses dias.
Tal como o poeta, também me releio  e... me questiono : Fui/sou eu??
- Sou, com certeza!
Então, resta-me acreditar que  só "Deus sabe, porque o escreveu."

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